sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Divã


Sexta feira pós feriado, cansada das diversas jornadas: profissional, esposa, filha, dona de casa, mulher, ufa! tanta coisa a fazer, poderia fazer uma lista...mas nada de lista! Liberdade! Heis que me dou uma tarde de filme no dvd de casa, sozinha no sofá e com o edredon do lado, os afazeres...por hoje esquece deles.

O primeiro filme o dia é Sempre ao Seu lado, que conta a história real de um cão fiel ao seu dono mesmo após a morte, filme bem feito, dramático, com belas imagens e trilha sonora, choro sozinha por várias vezes, só faltou o chocolate para o momento feminino ficar completo, rs. Muito legal recomendo.

Parto para o segundo filme do dia o Divã, a tempos estava com vontade de vê-lo mas só hoje foi possível, Lilia Cabral arrasa como atriz principal e compensa qualquer falha e que possa ter na produção nacional. Humor inteligente, conteúdo de reflexão do cotidiano e do universo feminino. Retrata o drama de uma mulher de 40 anos, casada a 20 e que por curiosidade inicia analise e percebe que tudo o que parecia estar bem, não estava tão legal assim e ai começa toda uma séria de mudanças. Sem falar que é o texto é da genial Martha Medeiros, que sabe falar tão bem e com uma simplicidade da mulher moderna.... ADOREI!!!!

Do livro de mesmo título do filme tiro o texto

Mulher Boazinha


Qual o elogio que uma mulher adora receber?
Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos:
mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.
Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara.
Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação,
e ela decorará o seu número.
Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito,
da sua aura de mistério, de como ela tem classe:
ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.
Mas não pense que o jogo está ganho: manter o cargo vai depender da sua
perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.
Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe,
que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades,
que ela é um avião no mundo dos negócios.
Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade,
seu bom gosto musical.
Agora quer ver o mundo cair?
Diga que ela é muito boazinha.
Descreva aí uma mulher boazinha.
Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.
Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja,
cuida dos sobrinhos nos finais de semana.
Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
Nunca teve um chilique.
Nunca colocou os pés num show de rock.
É queridinha.
Pequeninha.
Educadinha.
Enfim, uma mulher boazinha.
Fomos boazinhas por séculos.
Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.
Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos.
A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas,
crucifixo em cima da cama, tudo certinho.
Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um
desejo incontrolável de virar a mesa.
Quietinhas, mas inquietas.
Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.
Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes,
estrelas, profissionais.
Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.
Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.
Pitchulinha é coisa de retardada.
Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.
As boazinhas não têm defeitos.
Não têm atitude.
Conformam-se com a coadjuvância.
PH neutro.
Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções,
é o pior dos desaforos.
Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas,
apressadas, é isso que somos hoje.
Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.
As “inhas” não moram mais aqui.
Foram para o espaço, sozinhas.
Martha Medeiros

terça-feira, 1 de junho de 2010

Não Fuja da Dor


Pela manhã, geladinha anunciando o inverno que se aproxima.Levanto para a fazer a endoscopia, horário agendado para às 8:00 . 7:50 chego ao Hospital, acreditava não ter que aguardar tanto como no SUS, mero engano. Lá percebo que tem várias pessoas agendadas para o mesmo horário e sou a sexta da amanhã. Fazer o que?! Aguardar, tolerar, pensar, conversar, observar...várias opções. Os minutos vão passando e começo a pensar: "como que as pessoas reclamam nas Unidades de Saúde "muitas vezes sem razão, o Brasil tem um Sistema de Saúde privilegiado, sim com falhas e com muitas coisas a melhorar, mas que contempla a toda população: pobre -rico, empregado- desempregado, brasileiro- estrangeiro, da saúde em setor básico como especializado. Estamos a frente de muitos países no mundo, temos que reconhecer tudo de bom que temos e ajudar na melhora do Sistema.

E com o andar dos ponteiros do relógio, as folhas do livro que o marido lia( que foi me acompanhar visto os efeitos da anestesia), pensava eu...quantas pessoas adoentadas, falta médico, ou há excesso da medicalização? as Unidades de Saúde vivem lotadas, clinicas e hospitais particulares, será que há motivo real? será que há tanta gente precisando realmente de ajuda externa? Hoje o uso de medicação do Brasil é altíssimo, principalmente dos antidepressivos, ansiolíticos, e os benzodiazepinicos ("os remedinhos para dormir") .Devagando em conversa com o esposo colocamos a refletir sobre assuntos diversos: presente- futuro- escolhas, religião, medicina, psicologia e possibilidades.

Confesso que a conversa, a troca de opinião e a companhia agradável ajudou o tempo passar de forma sutil e gostosa. Fica dessa manhã a reflexão sobre mazelas, doenças, saúde, sistema, possibilidades, buscas, companhia...

Heis, que saio desse desconfortável exame mais de 11 da manhã: anestesiada, tonta e tranquila...rs
Deixo uma música do Titãs, que tem um pouco haver com a minha manhã médica...rs

Não Fuja Da Dor


Não tome comprimido
Não tome anestesia
Não há nenhum remédio
Não vá pra drogaria

Deixe que ela entre
Que ela contamine
Que ela te enlouqueça
Que ela te ensine

Não fuja da dor
Não fuja da dor

Não tome novalgina
Não tome analgésico
Nenhuma medicina
Não ligue para o médico

Deixe que ela chegue
Que ela te determine
Que ela te consuma
Que ela te domine

Não fuja da dor
Não fuja da dor
Querer sentir a dor
Não é uma loucura
Fugir da dor é fugir da própria cura